RELEMBRANDO

COSMOPOLITA DA ERA CHIC

Iraci Casagrande Koppe, relembra eventos que fizeram parte do nosso desenvolvimento, ainda antes da emancipação de Gramado, sobre o comportamento social da época e as festas mais frequentadas. “Segundo as minhas pesquisas em 1930, os bailes começavam às 8 horas porque a luz fornecida por uma pequena usina particular de Eugênio Bertolucci era desligada à meia noite. Mas continuavam com a luz neon e iam até às 8 horas da manhã do dia seguinte”, registra.

A Sociedade Recreio Gramadense, era de madeira e constituída de um salão, chapelaria e toalete para as senhoras. “Como nos dias de chuva havia muito barro nas ruas, existia uma peça especial para troca de vestidos e sapatos, e ainda, um lugar para as crianças. Em bailes mais informais, como o Baile da Chita, usávamos vestidos feitos de chita. No inverno havia o Baile da Pelúcia, mas este era de gala. O meu era bordeuax, lindo, com uma camélia branca. Havia também o Baile de São Silvestre, no Reveillon, um luxo. Serviam sopa de agnoline e o ambiente era muito familiar, fora de série!”

 

 

Segundo Dona Iraci, “o Baile mais famoso daqueles tempos era o da Primavera, patrocinado pelo Centro Esportivo Gramadense, que elegiam suas Rainhas. A primeira foi Irma Lied, filha do Presidente do Clube. A segunda foi Lacy Bertolucci e a terceira Carmen Bertolucci. Todas lindas e com belos vestidos de gala. Época de muito luxo. A orquestra era de Gramado, a melhor, em minha opinião. Chamava-se Flor da Serra. Dançávamos Valsas, Foxtrot e Tangos”.

 

 

"Os vestidos eram de organza, renda e paetês. Naquele tempo existia muita rivalidade entre as jovens. Cada qual queria ser a mais bonita. As que mais desejavam destaque compravam a metragem do tecido para a confecção de um vestido na venda do seu Dalle Molle e o restante da peça queimavam em forno de brasa, sem dó nem piedade. O importante era ser exclusiva. Existiam concursos do vestido mais bonito e a eleição era com compra de votos. O dinheiro arrecadado revertia para a decoração do clube. Todas as candidatas usavam luvas de suede brancas. Nossa Sociedade vivia o tempo cosmopolita da era chic, de verdade”, comenta. Sobre o comportamento, diz que quando um rapaz convidava uma moça para dançar, ela era obrigada a aceitar ao menos uma marca. Caso não simpatizasse com o jovem, ela tinha o direito de pedir licença, ao terminar a música e antes de começar a próxima. Os pares que estavam dançando e assim desejavam continuar, quando a música parava ficavam no salão, sempre dialogando, até a próxima música.

 

 

“A moda dos gramadenses, a partir de 1940 era igual a da Argentina. Terno, gravata, colarinho engomado, chapéu de feltro, era o que os homens usavam. O tango combinava com a época e era invencível, principalmente “La Cumparcita”, conta. "Foi após o fim da 2ª Guerra Mundial, quando tudo mudou: o brim coringa, camiseta e tênis, chegaram. Os filmes americanos mostravam as jovens de calça comprida que causava admiração e, ainda a moda da mulher fumando. Os pares já dançavam de rosto colado. Houve uma tentativa de copiar este novo comportamento nos bailes por aqui, mas os pares, como sempre, tinham que manter a respeitável distância ao dançar. Se o casal aproximava-se, demais, a Secretaria do clube chamava à atenção”.

 

  

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