A HISTÓRIA DA
RECREIO GRAMADENSE
Quando falamos do passado, sentimos a distância enorme que nos separa do romantismo e da beleza da época. Preservar o que se relaciona com o passado de nossa cidade, não é apenas cultivar o que é antigo, mas manter vivo o fio de tantas recordações deixadas por nossos antepassados, que nos legaram a sua cultura, seus costumes transmitidos de pai para filho. Essas lembranças enriquecem nossos conhecimentos e personalizam a nossa cidade e, quanto mais a conhecemos, mais a amamos. Diversas eram as situações em meados de 1913, nas colônias puramente rurais e de pequenas vilas onde a diferenciação das atividades recreativas se refletia na multiplicidade de clubes, sociedades, estabelecimentos comerciais e industriais ligados à recreação.
Em todas as áreas homogêneas de colonização alemã ou italiana, difundiram-se, amplamente, clubes de boliche, de tiro ao alvo, de canto orfeônico, círculos femininos e associações teatrais. A vida social transforma indivíduos biologicamente condicionados em personalidades. As ideias, os costumes, as crenças, os modos de sentir representam, por assim dizer, a atmosfera em que o indivíduo passa a ser pessoa humana. Embora a natureza seja uma só e as necessidades que dela derivam apresentem semelhanças fundamentais, não há como negar que as maneiras de personalidade dependem da aquisição de certos elementos ou valores culturais como ideias, crenças, opiniões, conhecimentos, técnicas, etc., considerados necessários para realizar ajustamentos às condições de uma determinada vida social. O ajustamento social do indivíduo, a sua socialização, depende, portanto, da incorporação de certos valores culturais na personalidade, seria uma "estrutura" de valores culturais adquiridos e articulados entre si em forma de hábito.
E assim, aos quinze dias do mês de abril de 1915, na casa de residência do Sr. Augusto Zatti, às oito horas da noite, presentes os cidadãos abaixo assinados, procedeu-se a eleição para a diretoria da Recreio Gramadense, dando o seguinte resultado: Para presidente, João Leopoldo Lied com nove votos; para vice-presidente, Pedro Carrera com sete votos; para primeiro secretário, Bruno Boelter com doze votos; para segundo secretário, Pietro Cesare Bertolucci; para primeiro tesoureiro, José Nicoletti Filho, com sete votos e para segundo tesoureiro, Pietro Cesare Bertolucci, também com sete votos. Em seguida procedeu-se a leitura e aprovação dos estatutos que foram unanimente aprovados, considerando-se organizada a Sociedade e eleita a Diretoria e a aprovação dos estatutos. E por nada mais haver tratar, lavrou-se a presente ata por todos assinada. “Eu, Bruno Boelter, José Nicoletti Filho, Pedro Carrera Filho, Pedro Benetti, Pietro Cesare Bertolucci, Antônio Benetti, Augusto Zatti, Paulo Sartori, Luiz Gallo, Domingos Bazzo, Francisco Boscatto e Pedro Dalla Wechio. Nada mais constará em dita ata que foi fielmente transcrita em vinte e cinco de maio de 1915. Assina Bruno Boelter, secretário, e João Leopoldo Lied, presidente.
Eis alguns dados históricos que marcaram o início desta sociedade e seus fins: Sobre a denominação "Recreio Gramadense", fundou-se neste quinto distrito uma sociedade com o fim de organizar e manter um grupo orquestral e proporcionar aos seus associados reuniões e diversões familiares. À proporção que a sociedade se desenvolver, sem prejuízo de seus interesses vitais, poderá ser aumentado o instrumental e número de sócios até o completo efetivo de uma banda. Os sócios dividem-se em três classes: a- sócios músicos b- sócios músicos ativos c- sócios músicos passivo-Alguns Alguns deveres: 1- As reuniões e divertimentos só poderiam ter início após o pagamento integral das dívidas sociais. A música tocará em dias de festas nacionais, às horas e lugar determinados em sessão anterior. Ela também tocaria gratuitamente em acompanhamento do féretro do sócio ou pessoas de sua família, se residissem dentro do raio de quinze quilômetros da sede. Todo músico deveria cuidar e zelar dos instrumentos responsabilizando-se pelos danos dos mesmos. No capítulo dois dizia que a diretoria seria composta de um presidente, um vice-presidente, primeiro e segundo secretários e primeiro e segundo tesoureiros. Mestre de música, Porta-Estandarte e Orador. Ao presidente cabia impedir apartes repetidos, referências pessoais diretas ou indiretas que pudessem ofender quem tivesse com a palavra, usando toda a prudência e moderação. Ao Mestre de Música cabia dirigir os ensaios, designando dia e hora para as tocatas. Fazer a aquisição dos instrumentos necessários. Depois do início dos ensaios, era expressamente proibido rir dos outros, para evitar constrangimentos entre os associados. Ao Porta-Estandarte cabia guardar e cuidar da bandeira da sociedade, conduzindo-a em dia de festa e quando designado pelo presidente acompanhado da guarda composta por dois sócios indicados para fazer respeitar e honrar a mesma. A joia era de 10 mil réis e em todas as classes de sócios, excluindo-se os filhos de sócio pela metade. O sócio músico pagava cinco mil réis todos os fins de mês, enquanto tomava lições de música, depois passava para a categoria de sócio ativo. Os sócios ativos pagavam dois mil réis que eram pagos por trimestre antecipadamente. As propostas de novos sócios eram feitas em envelopes fechados, acompanhados da importância da joia e dos primeiros três meses de mensalidades, sendo aberta e lida em voz alta. O secretário escrevia o nome proposto na pedra e de quem o propôs. Na seguinte sessão, era o proposto submetido a escrutínio secreto. Para ser admitido sócio, é preciso que tivesse duas terças partes de esferas brancas. Eram considerados estranhos os que residissem há três meses no lugar ou neste distrito e os que tinham saído do lugar por mais de seis meses ininterruptos. Era expressamente proibido penetrar no recinto com qualquer arma. Era vedada a discussão sobre política ou religião.
Em 1925, a orquestra foi extinta e João Leopoldo Lied e seus assessores fizeram um novo estatuto e daí em diante a sociedade toma novos rumos. Augusto Zatti, que regia a extinta orquestra, tornou-se o segundo presidente do clube. Cláudio Pasqual adquire o terreno onde se encontra a sociedade e começa a construção de uma nova sede de madeira, já que a primeira era na esquina da Praça Major Nicoletti e Madre Verônica, que era alugada e pertencia a Antônio Bechara. Em trinta e um de agosto de 1951, em reunião de diretoria dirigida por Francisco Zatti, foi apresentada uma nova planta para a construção de uma sede mais moderna, pois o tempo assim o exigia. Em seis de dezembro de 1951 deu-se início a construção com o estourar de meia dúzia de foguetes, foi registrado o término do trabalho da cobertura da nova sede em quatorze de agosto de 1953, na presidência de Guilherme Dal Ri. A obra foi feita pela Construtora Gramadense, de Aquilino Libardi e Ivo Barbacovi. Em 1956, os estatutos novamente foram alterados, permanecendo até hoje. As recordações embelezam a vida. O que é belo não morre. Surgem novas gerações e a cada geração que transpõe seu ciclo, correspondem novos desdobramentos de atividades em todos os departamentos do progresso. Nestes 80 anos várias construções foram feitas, surgindo em cada época uma construção conforme os anseios dos associados, desde uma modesta construção de madeira, depois uma de alvenaria e novamente, para este ano (2003), a construção de uma mais moderna ainda, fechando mais um ciclo. Estas velhas construções onde bailes e festas inesquecíveis foram realizadas, desde a iluminação a gás de metileno, até o presente momento, são conquistas realizadas pelo trabalho de todas as gerações, sintetizando o esforço tenaz e inteligente, destes que fizeram a grandeza deste clube e a contribuição que prestaram para a realização deste presente. João Leopoldo Lied, primeiro presidente, fundador que elaborou os primeiros estatutos. Comandou a Recreio durante onze anos, de 1915 a 1926. Teve juntamente com sua esposa, Dona Osvaldina, a pioneira a ensinar boas maneiras (comer, falar, sentar) em saraus que organizava em sua residência. Nas rústicas paredes onde os salões eram ornamentados para os bailes e festas, via-se a vontade do casal que arrecadava fundos para a melhoria do clube que era o orgulho de seus fundadores.