RELEMBRANDO

PARA DAR TUDO CERTO

Acompanhada pelo filho Kiko, Terezinha Benetti Caberlon, aos 93 anos, matriarca de uma tradicional família gramadense, conta sobre os anos que morou com a família no clube, trabalhando com o marido Fernando Caberlon e cuidando das crianças. “As minhas maiores lembranças são das noites de muito trabalho nos grandes bailes de casais e nos shows Cassino de Sevilha, Francisco Petronius, RaiConiff, Perla. Também atendíamos nos jantares do Rotary, do Orbis e Lions. Lembro quando preparava o jantar para uma turma de adolescentes e de todos que começaram a namorar aqui. Foi o começo da nossa vida, isso há mais de 50 anos!” 

Segundo ela, “Gramado começou com as festas e os encontros na Recreio. Todo mundo se ajudando para dar tudo certo! Quando de repente, surgia uma festa para muitas pessoas, eu tinha que sair correndo e pedir socorro por que não tinha telefone! A Dona Ermelinda Bonatto sempre vinha me ajudar. Quando fui morar na Sociedade, não tinha prática na cozinha, e precisava me aperfeiçoar. Dona Irma Peccin, caiu do céu na minha vida! Ela me ensinou a preparar comidas e molhos que eu não conhecia. Antoninho Barbacovi cuidava das crianças para nós e também trabalhava de garçom. Lembro da minha mãe espichando massa, fazendo ravióli, macarrão. Não era como hoje em dia, que se sai correndo e compra-se no mercado...Tudo espichado a mão...E era assim para qualquer festa! Se fossem 200, tinha que fazer. Minhas irmãs e a minha sogra, o Renato meu cunhado, também vinham me ajudar, quando apurava. Casei aqui, os meus irmãos se casaram aqui e toda a família, ajudou a organizar!”

Em sua memória, os carnavais eram de três noites bem puxadas! “Clube cheio, vinha gente de todo o lado, Novo Hamburgo, Sapiranga... Gramado foi muito divulgado através dos Blocos de Carnaval. E a partir daí foi crescendo... Participamos do Bloco dos Velhinhos quando paramos de trabalhar aqui. Era incrível!”

Lembra que seu marido Fernando tinha criação de perdigueiro. “Ele era caçador e tinha um cercadinho, nos fundos do clube onde ele ensinava os cachorros a caçar perdizes. Hoje em dia não pode mais! Eu cozinhava perdizada com polenta. Às vezes 50, 60, 100 bichinhos. A gente depenava, abria, limpava por dentro e fazia recheadinha com carne moída. Servia com polenta fresca, mole preparada na panela de ferro, fresquinha, com molho. Era uma delícia!”

Para acomodar toda a família, fala que era bem apertadinho. “Meus filhos saiam pro colégio e eu nem me preocupava em trancar a porta, não tinha perigo. Lá nos fundos era a cozinha, perto tinha um banheirinho e um corredorzinho na frente da cozinha onde eu botava um colchão pros guris dormirem juntos. Num quarto, eu e o Fernando e no outro dormiam as gurias. As crianças acordavam lambuzadas por que saíam escondidas no meio da noite para roubar chocolates no bar do clube. Eu nunca esqueço quando o Agnaldo Rayol veio se apresentar aqui e usou o quarto das meninas para se arrumar. Educadíssimo, uma simpatia!”

 

 

Durante toda a semana, o clube era dos freqüentadores do bolão e do carteado. Ela conta que fritava pastéis a noite toda, para o pessoal que jogava aqui. “Eles fumavam, com portas fechadas. Havia umas cortinas plásticas brancas que ficaram da cor de gema de ovo. Como era possível, aqueles homens passarem a noite fumando e bebendo naquela sala fechada? Tinha quem entrava em sexta feira e saia só no domingo. E não tinha hora para chegar, às vezes no meio da noite tocavam a campainha e o Fernando abria para mais um jogador. A gente também servia almoços para homens que vinham comer no balcão, sozinhos. Ao meio dia, fazíamos bife, batas fritas, ovos, arroz e salada. A gente não sabia direito quantas pessoas vinham então se fazia tudinho na hora, à medida que o pessoal chegava.” 

Kiko Caberlon, recorda os bons tempos da cancha de futebol de asfalto. “Se caísse doía! Os times que lembro eram o Jegra e outro, formado pelos integrantes do Monarcas. Tinha também o time da Estersul, caras que estavam construindo a estrada Gramado/Canela. Uns velhos que jogavam uma bola que, tá louco! Aqui era o encontro dos amigos e a gente saia para andar de carrinho de lomba, descendo a lomba do Hotel das Hortênsias.” 

Sobre as bandas de músicos que passaram pelo clube, fala de quando tocou no Batukas, composto por tuba, violão, baixo, bateria e teclado. ”Foi na década de 1970 e durou uns  anos. Fizemos muito sucesso na época e tocamos na primeira festa do Festival de Cinema de Gramado que foi aqui na Recreio há 50 anos atrás.  Os Die Fledermaus, foi o primeiro conjunto de Gramado. Outras bandas eram Os Primitivos, Os Lenheiros e os Irmãos Broilo”

 

 

Conta que foi um tempo de convívio muito saudável, quando aprendeu a receber bem as pessoas. “Eu vivi aqui com muito prazer, fazia tudo com muito amor. A gente quando é novo, tem pique para trabalhar. Depois que eu parei de morar aqui é que eu comecei a vir nas festas, nos jantares do bloco, nos bailes, carnavais. Sinto saudades do tempo em que eu cozinhava aqui, eu gostava muito. Se pudesse voltar naquele tempo, eu voltaria”.

 

 

 

 

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